segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Engenharia Reversa

Eu quebrei e soltei as peças
Dependuradas entre arames e fios
Os parafusos e porcas espalhados
Refletem a arquitetura vil
Da engrenagem que é falha e move
Entre os cacos do que era vidro
E o farelo do cinza acrílico

A energia que agora não corre
Exemplifica o curioso processo
Entre as réguas cegas, não meço
As fagulhas que surgem do motor
Que já não gira, agora solto
E cheira como algo ruim
Como tensão e ponto

Da solda eu estouro a liga
Parte a parte desmonto inteira
A peça que outrora em bloco
Movimentava a rasgada correia
Que agora de nada me serve
Como todo o resto do conjunto
Unicamente lixo disperso

Tudo em pedaços desajustados
E agora tudo faz sentido
Partindo do ponto final
Até a concepção do início
O projeto que me instigava
Agora absorvido já não me atrai
Exposto em seus cálculos reduzidos

Eu monto ao contrário
A construção do que quebro

Minha engenharia reversa

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Silêncio

Silêncio é o que eu escuto
quando você não está por perto
Barulhos que teria ouvido
de coisas tantas que teríam acontecido
Ás vezes o silêncio me ensurdece

Ás vezes o silêncio é tangível
Como cortina imóvel de vidro
entre cacos despedaçados de mim
Quando você não está por perto
ouço o silêncio em mim mesmo

É como a tarde que cai sem ruído
no enluarar solitário
Eu estrela, envaidecido
choro ao contemplar narcisista
Meu reflexo n'água espalmado

Meu reflexo é nada, é vazio
Como o nada no escuro, é perene
um silêncio como o som dum morto
Suave presença na tua ausência
de ti recordo vagamente absorto

Silêncio é não ter te conhecido
nem te amado um pouco
Sinto a falta de teu ausente ruído
acalentando meu coração frio    
Não ter teu amor é estar morto

Não ter teu amor é estar louco
É canção emudecida
É um ouvido surdo
Num chorar miúdo e meloso
Da carência de amor ruidoso.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Hasty

Running make me sick and tired. All good things in this world took a long time to be designed, from the tiny flower to the giant tree. Why running instead of enjoying unique moments?

Nowadays mankind develops everything as fast as possible. It's all about fast-food, fast-study, fast-work, and many other fast fucking things.

Best things are made a little slowly, providing some little time to appreciation. Being hasty seems nice sometimes, but you can't observe things around you clearly while running.

I prefer walking than running. I prefer a normal pace of living. Unfortunatelly i have to run almost all the time...
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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dia 9 de fevereiro

Hoje bateu um calor
Encontrei meu amor
E fui tomar um frozen...

...

Depois de algum tempo percebo que não há muitas palavras no vocabulário português que rimam com frozen.

...

Merda!
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Musa

Você sabe que estou sozinho
Sabe que estive doente e alucinado
Nunca alivia meu coração
Sempre me deixa de lado

Fica feliz quando estou mal
Vira meu mundo de cabeça para baixo
Faz graça com a minha cara
Derrama sujeira em meu ódio

Esculpe jóias em meus ossos
Conta mentiras sobre mim
Você cospe quando eu passo
Recomeça no meu fim

Eu choro, mas tolero
Eu grito, mas espero
Eu tremo e aguardo
Aumento meu lastro

Te sigo nas manhãs
Cortando seus jardins
Me arrasto na tua trilha
Me enterro em seus confins

Desato os teus nós
Você aperta os meus
E gosta de pisar
Enquanto dá adeus

Preparo o teu licor
A seiva vil expremo
Sorrio enquanto bebes
Teu doce e frio veneno

Dorme em teu travesseiro de pedra
Minha musa.
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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Medo de Corujas

Tenho vinte e cinco anos e sou aficionado por corujas desde criança. Sempre gostei do animal, que apresenta um semblante tranquilo, mas ao mesmo tempo alerta para qualquer situação, qualquer movimento.

Quando comecei a estudar, aprendi o simbolismo que envolve a imagem da coruja - sempre representante de conhecimento e sabedoria - e, talvez por isso, minha afeição pelo animal só fez aumentar, tanto que considero a coruja uma das aves mais bonitas dentre todas as existentes (ao menos as que eu conheço, obviamente).

Meu fascínio é tão grande que iniciei, faz algum tempo, uma coleção de réplicas de corujas, mochos e similares. A maioria retrata o porte e o semblante do animal com fidelidade, salvo as réplicas talhadas em pedras naturais ou representações artísticas particulares. A imagem da ave me traz tranquilidade, talvez transmitida pela serenidade natural da espécie.

Mas porquê resolvi escrever sobre isso?

Existe um sentimento místico que envolve a imagem das corujas, algo de supersticioso, oculto. Muita gente acha que são animais agourentos, sombrios ou coisas do tipo. As pessoas associam crendices populares utilizadas para que as crianças durmam cedo, por exemplo, com fatos. Há quem diga e garanta que as corujas são sinal de azar e até presságio de morte, e por essas crenças tolas, muitas corujas são mortas ou feridas em cidades interioranas. A crendice torna-se tolice.

O cúmulo do absurdo, experimentado por mim, foi ouvir que eu não tenho (ou trago) sorte na vida porque gosto de corujas, ou que terei azar na vida porque tenho réplicas de corujas em casa. Quase patético.

Não sou uma pessoa rica, mas vivo uma situação estável e confortável. Gozo de boa saúde, não tenho pesadelos ou visões apocalípticas, casei com uma mulher linda e carinhosa, tenho sorte no jogo e um bom trabalho. Não sei se as corujas me ajudaram a alcançar estas coisas (acho que não), mas tenho certeza de que nunca me prejudicaram ou, como gostam de dizer, "atrasaram minha vida".

Tenho uma miniatura de coruja em minha mesa no trabalho, e tantas outras em casa, e garanto que, no máximo, elas me trazem bom agouro. Jamais ousaria ter uma coruja em cativeiro, mas caso alguma resolva instalar-se em meu quintal de casa um dia, farei o possível para mantê-la confortável durante sua estadia, como faria com qualquer outro animal silvestre.

Quem traz azar é quem vive falando de azar. Não venham culpar uma pobre ave, quando a raiz dos problemas está dentro de cada um.

Vida longa às corujas!