segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Rotina

Você acorda às cinco da manhã. Suas pálpebras doem e sua visão está turva. Obviamente o sono ainda persiste, e seu reflexos estão prejudicados.

Você trabalhou até tarde no dia anterior, e depois fez hora-extra em casa, tudo para conseguir pagar a conta de telefone. O cansaço é como uma mochila de chumbo cravada em seus ombros.

Sua rinite ataca, em conjunto com a sinusite crônica. A leve febre noturna não baixou depois do banho frio. Você detesta banho frio.

Vai ter de correr para pegar o ônibus. Isso significa que o café da manhã vai ficar para outro dia. Fica sempre para o dia seguinte, desde que você começou a trabalhar.

Sua caminhada até o ponto de ônibus é longa. Você sobe a ladeira íngreme com perseverança, até que começa a chover forte. Na pressa, você esqueceu seu guarda-chuva. Sua perseverança acaba, sua subida é cada vez mais cansativa. Você corre o mais rápido que pode, a ponto de ver o único ônibus que o levaria ao trabalho em tempo. Ele acaba de sair do ponto e virar a esquina. Sim, você chegará atrasado.

Após quarenta minutos aguardando molhado pela chegada do seu ônibus, ele finalmente chega. Lotado. Você se espreme na catraca e consegue milagrosamente passar. Em seguida seus pés são pisoteados por senhoras gordas que correm para se amontoar nas pequenas janelas.

Um sujeito atrás de você estava resfriado. Você percebe isto ao passar a mão na gola de sua camisa. Ela não estava tão molhada antes.

Você busca chegar próximo à porta de saída. Após diversas cotoveladas e hematomas, você chega próximo à porta. Uma senhora carregando duas bolsas gigantes aloja-se às suas costas. A cada curva, as bolsas e a senhora fazem um peso descomunal em suas costas. Sua escoliose acusa que vai doer pela semana inteira.

Seu destino é alcançado após uma hora e meia. Ao tentar descer do ônibus, sua calça fica presa em uma limalha de ferro da precária lataria interna do veículo. Além de arranhar sua perna, faz um furo em sua calça.

Silêncio.

O motorista do veículo, irritado com sua pausa, ameaça arrancar com o veículo. Você consegue descer.

Da janela do ônibus, um casal de senhores deseja a você um solene bom-dia. Com sangue nos olhos e sentindo-se como uma besta pronta a atacar, você engole em seco e responde vigorosamente:

- Bom dia!